Consumo alimentar revela desigualdades raciais entre mulheres brasileiras
Um estudo recente analisou os hábitos alimentares de mulheres brasileiras e revelou profundas desigualdades raciais no consumo de alimentos saudáveis. A pesquisa utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 e incluiu 45.148 mulheres brancas e negras, maiores de 20 anos. Os resultados mostram que, enquanto as mulheres brancas consomem mais frutas, verduras e legumes, as mulheres negras têm maior consumo de feijão e peixe.
As conclusões do estudo apontam que essas disparidades não são apenas questões de preferência alimentar, mas estão diretamente relacionadas a fatores socioeconômicos. As mulheres negras, geralmente com menor poder aquisitivo, encontram maior dificuldade em acessar alimentos frescos, como frutas e vegetais, que costumam ser mais caros e menos acessíveis em áreas economicamente vulneráveis.
Mesmo ajustando os dados para variáveis como idade, renda e escolaridade, as diferenças permaneceram. As mulheres negras continuaram apresentando menor probabilidade de consumir frutas e maior probabilidade de consumir feijão em comparação às mulheres brancas. O feijão, por exemplo, é um alimento tradicional e acessível, o que explica seu consumo mais frequente entre as populações de baixa renda.
O estudo também destacou que a dieta das mulheres negras pode estar vinculada às suas condições de vida, como menor acesso a recursos de saúde, orientação nutricional e alimentos saudáveis. Essas barreiras contribuem para um padrão alimentar menos variado e nutricionalmente inferior em comparação às mulheres brancas.
Além disso, o trabalho evidenciou que essas desigualdades alimentares variam conforme a região do país. Enquanto as mulheres negras do Norte do Brasil consomem mais peixe, o consumo de verduras e legumes é significativamente maior entre as mulheres brancas do Centro-Oeste. Essas variações regionais refletem a complexidade dos determinantes alimentares no Brasil.
Os autores do estudo recomendam que políticas públicas sejam fortalecidas para garantir maior acesso a alimentos saudáveis, especialmente para as mulheres negras, a fim de mitigar as disparidades alimentares no país.
Saiba mais
O artigo intitulado “Consumo de alimentos marcadores de uma alimentação saudável, segundo os grupos raciais de mulheres no Brasil” foi escrito por Joana Furtado de Figueiredo Neta, Samara Calixto Gomes, Bruno Luciano Carneiro Alves de Oliveira, Thayná de Lima Sousa Henrique, Roberto Wagner Júnior Freire de Freitas, Nirla Gomes Guedes, Ana Karina Bezerra Pinheiro e Marta Maria Coelho Damasceno. Foi publicado na revista *Ciência & Saúde Coletiva*, volume 29, número 10, em 2024.
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