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Mitos e verdades do agronegócio

Mitos e verdades do agronegócio

Estudo analisa contradições entre propaganda e realidade no setor agropecuário.

Um estudo recente publicado na revista Estudios Rurales desmistifica o discurso de que o agronegócio é a principal riqueza do Brasil e examina suas contradições em relação aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Segundo os autores, embora o setor seja promovido como essencial para a economia e a segurança alimentar, a realidade mostra desigualdades sociais, econômicas e ambientais preocupantes.

O artigo destaca três mitos frequentemente associados ao agronegócio brasileiro: que ele é a maior fonte de riqueza do país, que gera altos índices de emprego e que posiciona o Brasil como “celeiro do mundo”. Contrariando essas afirmações, o estudo aponta que a riqueza gerada pelo setor é concentrada em poucos produtos exportados, como a soja, o milho e a cana-de-açúcar, sem impacto significativo na redução da fome e da pobreza. Dados indicam que 61 milhões de brasileiros enfrentaram insegurança alimentar entre 2019 e 2021, com 15 milhões passando fome.

Outro ponto abordado é o impacto ambiental e social do agronegócio. A expansão de monoculturas, o uso intensivo de agrotóxicos e a grilagem de terras resultam em desmatamento, perda de biodiversidade e expulsão de comunidades tradicionais. Além disso, a financeirização da terra e a concentração de propriedades agravam os conflitos agrários, expondo trabalhadores rurais a condições degradantes, muitas vezes análogas à escravidão.

Os autores criticam ainda a publicidade massiva que exalta o agronegócio como sinônimo de modernidade e progresso. Essa narrativa mascara os impactos negativos do modelo agroexportador, que privilegia grandes corporações em detrimento da agricultura familiar, responsável por grande parte da produção de alimentos básicos no país. Além disso, o setor beneficia-se de generosos subsídios e isenções fiscais, enquanto contribui pouco para a diversificação econômica.

O estudo conclui que o modelo atual do agronegócio é incompatível com o desenvolvimento sustentável e que é necessário repensar as políticas públicas para promover uma agricultura mais inclusiva e ambientalmente responsável. Propostas como o fortalecimento da agricultura familiar e a reforma agrária são apontadas como caminhos para reduzir desigualdades e garantir soberania alimentar.

A pesquisa reforça que o debate sobre o papel do agronegócio deve ir além da retórica publicitária e considerar os desafios reais enfrentados pela sociedade brasileira. Para os autores, uma reflexão crítica é fundamental para alinhar o setor às demandas de sustentabilidade e justiça social.

Saiba mais

O artigo, intitulado Três Mitos, Três Incômodas Verdades Sobre o Agronegócio Brasileiro, foi escrito por Flávio Sacco dos Anjos (UFPel), José Marcos Froehlich (UFSM) e Nádia Velleda Caldas (UFPel). Ele foi publicado na revista Estudios Rurales, edição 29, volume 14, em 2024.

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