×

A mercantilização da cidadania

A mercantilização da cidadania

Estudo analisa como a mercantilização da cidadania reflete e amplia desigualdades entre países e indivíduos.

Um estudo publicado na REMHU, Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana, explora a mercantilização da cidadania, revelando como a venda de passaportes e o turismo de parto se tornaram práticas comuns em um cenário global de desigualdade. Svetlana Ruseishvili e Kristin Surak discutem como a cidadania deixou de ser apenas um símbolo de lealdade e patriotismo para se tornar um ativo estratégico em mercados globais, atraindo tanto elites econômicas quanto famílias em busca de oportunidades melhores para seus filhos.

Os pesquisadores destacam que a cidadania, atribuída no nascimento ou adquirida posteriormente, é um dos principais fatores que determinam as oportunidades de vida de um indivíduo. Exemplos incluem brasileiros que obtêm cidadania italiana por ancestralidade e elites econômicas que investem em programas de cidadania por investimento no Caribe. Ambos os casos refletem a busca por mobilidade global e benefícios econômicos, embora as motivações e os acessos variem amplamente.

O artigo revela que países oferecem cidadania em troca de investimentos significativos, utilizando-a como uma ferramenta estratégica para atrair recursos financeiros. No entanto, essa prática reflete e perpetua desigualdades globais, pois apenas uma parcela da população mundial pode acessar essas opções. Indivíduos de países com passaportes “fracos” frequentemente enfrentam barreiras de mobilidade, enquanto cidadãos de nações com passaportes “fortes” desfrutam de amplos privilégios.

A mercantilização da cidadania também é abordada em termos históricos e políticos. As autoras discutem como a herança colonial e o racismo estrutural influenciam as políticas de naturalização e exclusão. Países como Itália e Espanha naturalizam descendentes de europeus na América Latina, mas impõem barreiras rigorosas para imigrantes não europeus. Isso reflete uma lógica seletiva, onde os Estados utilizam a cidadania para moldar suas comunidades políticas e econômicas.

O estudo ressalta que a cidadania é um instrumento poderoso tanto de inclusão quanto de exclusão, sendo utilizada estrategicamente tanto por Estados quanto por indivíduos. A globalização e o capitalismo contemporâneo intensificaram essa dinâmica, tornando a cidadania uma mercadoria que não apenas garante direitos, mas também amplifica desigualdades regionais e globais.

As autoras concluem que, embora a cidadania seja frequentemente associada à igualdade de direitos, ela também perpetua desigualdades estruturais. O texto traz reflexões valiosas para pesquisadores e formuladores de políticas interessados em migração, desigualdades globais e os impactos das políticas de cidadania.

Saiba mais

O artigo, intitulado Mercantilização da cidadania e desigualdades globais, foi escrito por Svetlana Ruseishvili e Kristin Surak e publicado na edição de 2024 da REMHU, Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana (volume 32, artigo e321920).

Publicar comentário