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Própolis de abelhas mostra poder contra Zika, Chikungunya e Mayaro

Própolis de abelhas mostra poder contra Zika, Chikungunya e Mayaro

Estudo revela potencial antiviral do própolis de Scaptotrigona aff. postica contra Zika, Chikungunya e Mayaro, destacando sua eficácia e segurança em culturas celulares.

Pesquisadores brasileiros descobriram um potencial promissor no combate a vírus tropicais: o própolis produzido por abelhas sem ferrão da espécie Scaptotrigona aff. postica. Este composto natural, amplamente conhecido por suas propriedades antimicrobianas, mostrou eficácia contra os vírus Zika, Chikungunya e Mayaro, que causam doenças graves em áreas tropicais. O estudo foi conduzido no prestigiado Instituto Butantan e destacou como o própolis pode ser uma alternativa natural e acessível para enfrentar essas infecções.

As arboviroses, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, são um problema de saúde pública em países tropicais como o Brasil. O vírus Zika, por exemplo, ganhou notoriedade em 2015 devido à sua associação com casos de microcefalia em bebês, enquanto o Chikungunya provoca dores articulares severas que podem persistir por anos. Já o vírus Mayaro, menos conhecido, causa sintomas similares ao dengue, mas afeta predominantemente populações rurais e periféricas.

Os resultados do estudo são promissores: o própolis demonstrou uma redução significativa na carga viral durante os testes. No caso do vírus Chikungunya, a substância conseguiu reduzir em até 256 vezes a replicação do vírus na sua forma bruta e 512 vezes em sua versão purificada. Resultados semelhantes foram observados com os vírus Zika e Mayaro, evidenciando a capacidade de o própolis atuar em diferentes infecções virais. Essa versatilidade é um indicativo de seu potencial como uma ferramenta terapêutica de amplo espectro.

Além da eficácia antiviral, a segurança do própolis foi outro ponto destacado pelos pesquisadores. Em testes de toxicidade realizados com células VERO, o própolis não apresentou efeitos adversos significativos, mesmo em concentrações de até 10%. Essa característica é crucial, especialmente para considerar seu uso em medicamentos ou produtos terapêuticos destinados a populações vulneráveis, como grávidas e crianças, frequentemente afetadas por essas doenças.

O estudo também revelou que o própolis age de forma mais eficaz quando administrado logo após a infecção. Isso sugere que ele pode atuar como uma ferramenta de intervenção precoce, ajudando a impedir a progressão do vírus no organismo. Além disso, acredita-se que os compostos bioativos presentes no própolis, como flavonoides e ácidos fenólicos, são os responsáveis por essa ação antiviral. Esses compostos não apenas inibem diretamente a replicação viral, mas também estimulam o sistema imunológico inato, aumentando a produção de interferons e outras moléculas que fortalecem a defesa do organismo.

Outro aspecto importante abordado no estudo foi o manejo sustentável das abelhas sem ferrão. Essas abelhas não apenas produzem própolis, mas também desempenham um papel crucial na polinização de plantas, contribuindo para a manutenção da biodiversidade. A conservação dessas espécies é essencial, especialmente em regiões como o Maranhão, onde o estudo foi realizado e onde as abelhas são amplamente utilizadas em práticas agrícolas sustentáveis.

Apesar dos avanços, os pesquisadores enfatizam que mais estudos são necessários para traduzir esses resultados em aplicações clínicas. Ensaios clínicos em humanos serão indispensáveis para confirmar a eficácia e segurança do própolis como um antiviral. Além disso, os cientistas destacam que a padronização dos compostos bioativos presentes no própolis será essencial para garantir sua eficácia em larga escala.

A relevância dessa descoberta vai além do tratamento individual. Em regiões tropicais e subtropicais, onde as arboviroses são endêmicas e o acesso a medicamentos é limitado, o própolis pode se tornar uma solução acessível e sustentável. Essa abordagem natural também é uma alternativa importante para reduzir a dependência de antivirais sintéticos, que muitas vezes têm alto custo e efeitos colaterais significativos.

O estudo reforça a importância de explorar a biodiversidade brasileira em busca de soluções para problemas globais de saúde. Produtos naturais, como o própolis, não apenas complementam a medicina tradicional, mas também representam uma oportunidade de valorizar os recursos naturais do Brasil e promover o desenvolvimento de tratamentos inovadores e economicamente viáveis.

Por fim, o uso de própolis de abelhas sem ferrão é mais do que uma solução médica. É um exemplo de como a ciência, a sustentabilidade e a inovação podem se unir para abordar desafios globais. Este estudo representa um marco importante na pesquisa sobre antivirais e destaca o papel do Brasil como líder na exploração de recursos naturais para fins medicinais.

Informações sobre o Artigo:
O estudo intitulado Antiviral action of aqueous extracts of propolis from Scaptotrigona aff. postica (Hymenoptera; Apidae) against Zika, Chikungunya, and Mayaro virus, foi publicado na revista Scientific Reports em junho de 2024, volume 14, edição 15289.

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