Pesquisa revela possíveis genes associados à mediunidade
Base Genética da Mediunidade: Estudo Inovador Revela Evidências Científicas
Um estudo inovador realizado por pesquisadores brasileiros e publicado no Brazilian Journal of Psychiatry analisou a possível base genética da mediunidade. A pesquisa utilizou técnicas avançadas de sequenciamento genético para investigar se há diferenças genéticas entre médiuns altamente capacitados e seus familiares sem mediunidade. Os resultados sugerem que certos genes podem estar associados a experiências mediúnicas, trazendo novas perspectivas sobre a relação entre biologia e espiritualidade.
O que é mediunidade e por que estudá-la cientificamente?
A mediunidade é uma prática espiritual presente em diversas culturas ao longo da história. Pessoas com essa habilidade afirmam ser capazes de se comunicar com entidades espirituais ou captar informações de fontes não físicas. Embora frequentemente associada a crenças religiosas, a mediunidade também tem sido objeto de investigações científicas, principalmente nas áreas da psicologia e neurociência.
Estudos anteriores já exploraram os aspectos neurológicos da mediunidade, utilizando exames de neuroimagem para identificar possíveis diferenças no funcionamento cerebral desses indivíduos. No entanto, até o momento, poucos estudos haviam investigado se essa habilidade poderia ter uma base genética. A pesquisa recente preenche essa lacuna, analisando diretamente o material genético de médiuns para identificar possíveis variações associadas à prática mediúnica.
Comparação genética entre médiuns e seus familiares
Os pesquisadores selecionaram 54 médiuns brasileiros altamente capacitados, cada um com mais de dez anos de prática e reconhecidos por suas comunidades espirituais pela autenticidade de suas experiências. Para garantir um grupo de controle adequado, foram analisados 53 parentes de primeiro grau desses médiuns que não possuem mediunidade.
A equipe utilizou o sequenciamento completo do exoma (WES – Whole Exome Sequencing), uma técnica que permite mapear todas as regiões codificadoras do DNA, responsáveis pela produção de proteínas. O objetivo foi identificar variantes genéticas específicas encontradas nos médiuns, mas ausentes em seus familiares.
Os resultados foram surpreendentes: foram identificadas 15.669 variantes genéticas exclusivamente presentes nos médiuns, que potencialmente afetam a função de 7.269 genes. Destes, 33 genes apresentaram alterações significativas em pelo menos um terço dos médiuns analisados, mas não estavam presentes em seus parentes.
Genes ligados ao sistema imunológico e à percepção sensorial
As análises genéticas revelaram padrões interessantes. Muitos dos genes identificados estão relacionados ao sistema imunológico e à proteção epitelial, indicando uma possível conexão entre mediunidade e processos inflamatórios. O estudo apontou que a via inflamatória foi a mais impactada, com destaque para a translocação da proteína ZAP-70 para a sinapse imunológica. Essa descoberta sugere que o sistema imunológico pode desempenhar um papel inesperado na mediação de experiências espirituais.
Além disso, os pesquisadores identificaram variantes genéticas associadas a sistemas sensoriais, incluindo genes envolvidos na percepção do ambiente externo. Isso pode indicar que indivíduos com essas variantes genéticas processam informações de maneira diferenciada, o que pode estar relacionado às experiências mediúnicas.
Outro achado relevante foi a presença do gene MUC19 entre os mais afetados nos médiuns. Esse gene está altamente expresso na glândula pineal, uma estrutura do cérebro historicamente associada à espiritualidade. A ideia de que a glândula pineal poderia estar envolvida em fenômenos mediúnicos é antiga, sendo defendida por filósofos como René Descartes, e este estudo traz novas evidências que podem reforçar essa hipótese.
Como a genética pode influenciar experiências espirituais?
A descoberta de variantes genéticas específicas em médiuns levanta questões fascinantes sobre a relação entre genética e espiritualidade. Os pesquisadores sugerem que essas diferenças genéticas podem influenciar a forma como o cérebro processa informações sensoriais e emocionais, tornando alguns indivíduos mais propensos a experiências espirituais ou mediúnicas.
Além disso, o envolvimento do sistema imunológico nesse processo pode indicar que certos estados fisiológicos afetam a percepção e a cognição de formas ainda pouco compreendidas. Há hipóteses de que o sistema imunológico possa modular a percepção da realidade de maneiras que vão além da simples resposta a infecções ou inflamações.
Implicações do estudo e direções futuras
Este estudo é pioneiro ao sugerir uma base genética para a mediunidade, desafiando explicações tradicionais que atribuem essas experiências apenas a fatores psicológicos, culturais ou religiosos. No entanto, os próprios pesquisadores alertam que mais estudos são necessários para validar os achados e entender melhor como essas variantes genéticas influenciam o funcionamento do cérebro.
Pesquisas futuras podem explorar se essas variantes genéticas afetam outras funções cognitivas ou se estão relacionadas a outras formas de percepção ampliada. Além disso, estudos em maior escala podem ajudar a determinar se esses genes são exclusivos de médiuns ou se podem ser encontrados em diferentes graus na população geral.
A pesquisa publicada no Brazilian Journal of Psychiatry representa um avanço significativo no entendimento da relação entre biologia e espiritualidade. Os achados indicam que a mediunidade pode ter uma base genética e sugerem novas direções para estudos sobre a mente e a consciência. Se confirmados por estudos futuros, esses resultados poderão mudar a forma como compreendemos experiências espirituais e sua relação com a neurociência e a genética.
Saiba Mais
- Título completo do artigo: Candidate Genes Related to Spiritual Mediumship: A Whole Exome Sequencing Analysis of Highly Gifted Mediums
- Nome dos autores: Wagner Farid Gattaz, Marianna de Abreu Costa, Angélica Salatino-Oliveira, Daniel Gaspar Gonçalves, Leda L. Talib, Alexander Moreira-Almeida
- Revista em que foi publicada: Brazilian Journal of Psychiatry
- Edição, volume e dados de publicação: Aceito em 24 de dezembro de 2024. DOI: 10.47626/1516-4446-2024-3958
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