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Oficinas artísticas promovem transformações cognitivas em idosos atendidos por CAPS

Oficinas artísticas promovem transformações cognitivas em idosos atendidos por CAPS

A cenopoesia, uma abordagem criativa e integrativa, está transformando a maneira como idosos no Nordeste brasileiro enfrentam os desafios do envelhecimento e da saúde mental. Um estudo realizado em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) detalhou o impacto positivo das oficinas cenopoéticas, que combinam teatro, pintura, música e outros elementos artísticos, como forma de promover bem-estar e resiliência emocional. Coordenadas pelo Programa Oficinando em Rede, essas atividades envolveram cinco participantes, com idades entre 52 e 65 anos, que compartilharam suas vivências e redescobriram a importância do autocuidado, da arte e do afeto em suas trajetórias.

As oficinas começaram de forma presencial, mas, com a pandemia de Covid-19, precisaram ser adaptadas para o formato virtual. Apesar das limitações impostas pelo distanciamento social, o programa conseguiu manter a conexão entre os participantes, demonstrando a força das interações humanas mediadas pela arte. Adélia, uma das participantes, resumiu o impacto dessa experiência ao afirmar que “nosso corpo é nossa morada, nossa casa”. Seu relato enfatiza como as mudanças físicas e emocionais podem ser ressignificadas por meio de práticas criativas.

Os participantes relataram diversos medos e desafios enfrentados durante o envelhecimento. Carlos, por exemplo, compartilhou sua angústia em relação à perda de mobilidade devido a problemas ósseos. No entanto, as oficinas ajudaram a transformar esses sentimentos em oportunidades de crescimento. A música, escolhida coletivamente pelo grupo, desempenhou um papel essencial nesse processo. Cirandas e canções regionais criaram um ambiente acolhedor e empático, fortalecendo os laços entre os participantes.

Além da música, outras atividades práticas também foram destaque. Clarice, uma participante com amplo conhecimento em plantas medicinais, utilizava as oficinas para compartilhar saberes sobre saúde natural. Essa troca de experiências foi crucial para reforçar a importância do autocuidado e promover um bem-estar integrado, envolvendo tanto o corpo quanto a mente. As práticas de cultivo e cuidado com as plantas também simbolizavam o renascimento e a conexão com a natureza, temas recorrentes nas oficinas.

O conceito de cenopoesia, idealizado por Ray Lima, foi o alicerce das atividades, oferecendo um espaço para que os participantes se expressassem de maneira livre e criativa. Por meio da arte, eles revisitaram memórias, enfrentaram traumas e celebraram conquistas pessoais. Coralina, uma das integrantes, foi um exemplo de resiliência e esperança. Mesmo diante de condições adversas, sua presença era marcada por energia vibrante, inspirando os demais a olhar para o envelhecimento com mais leveza e propósito.

A adaptação para o formato online durante a pandemia apresentou desafios, mas também oportunidades. As oficinas virtuais incorporaram alongamentos e exercícios simples, que ajudaram a aliviar tensões físicas e emocionais. Além disso, a troca de histórias e saberes entre os participantes reforçou a importância da coletividade no enfrentamento das dificuldades. A utilização de videochamadas e outras ferramentas digitais demonstrou a resiliência do grupo e a capacidade de adaptação diante das adversidades.

O impacto das oficinas foi profundo, não apenas para os participantes, mas também para a equipe multiprofissional do CAPS. A pesquisa mostrou como iniciativas como essa podem transformar as práticas de cuidado, inspirando novos modelos de atenção à saúde mental. Os relatos dos participantes indicaram mudanças significativas em suas perspectivas, com muitos destacando um novo sentido de pertencimento e propósito em suas vidas. As oficinas foram além da abordagem terapêutica tradicional, integrando arte e afeto de maneira única.

A importância de políticas públicas que promovam programas semelhantes foi amplamente destacada. A arte e a criatividade, combinadas com o cuidado coletivo, mostraram-se ferramentas poderosas para enfrentar os desafios do envelhecimento, especialmente em regiões com poucos recursos. O estudo reforça que é possível envelhecer com dignidade, alegria e significado, desde que haja suporte adequado e espaços para expressão e conexão.

SAIBA MAIS

O estudo, intitulado Transformações cognitivas nas trajetórias de envelhecimento e longevidade em saúde mental, foi realizado por Laryssa Dayanna Costa Ferreira, Karla Rosane do Amaral Demoly e Yákara Vasconcelos Pereira. Publicado na revista Interface (Botucatu), Volume 28, Edição de 2024.

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